Temer ataca Janot e tenta desqualificar denúncia: “Ficção”

Publicado em: 27 de Junho de 2017

No primeiro pronunciamento após ser denunciado por corrupção passiva, o presidente Michel Temer partiu para a guerra contra o procurador-geral República, Rodrigo Janot. Nesta terça-feira (27), o peemedebista chamou de "ficção", "revanche" e "ataque injurioso e indigno" a acusação feita pela PGR, no episódio da mala de R$ 500 mil, que seria baseada em "ilações" e em "prova armada". 

— Fui denunciado por corrupção passiva sem jamais ter recebido valores. Nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento destes valores? Inexistem – disse.

Em 16 minutos de fala no Palácio do Planalto, escoltado por dezenas de parlamentares e alguns ministros, Temer ainda insinuou que parte dos "milhões" pagos ao escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência do grupo JBS, onde trabalha um ex-procurador da equipe de Janot, poderia ter ficado com o procurador-geral. 

— Pelas novas leis da ilação, poderíamos concluir que, talvez, os milhões não fossem unicamente para o assessor de confiança que deixou a PGR — disse Temer.

O ex-procurador em questão é Marcelo Miller, que deixou a PGR em março e passou a atuar no Trench, Rossi & Watanabe Advogados, que negociou o acordo de leniência da JBS – a PGR informou que o jurista não participou do acordo de delação dos Batista. Temer usou o caso para desqualificar a delação de Joesley Batista e a primeira da série de denúncias que será apresentada por Janot. Sem citar o nome do PGR e garantindo não fazer ilações, o presidente disparou:

— Ganhou (Miller) milhões em poucos meses, o que levaria décadas para poupar. Garantiu ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que tira o seu patrão das garras da Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista. Ainda não está claro o que moveu Janot, que homologou uma delação e distribuiu o prêmio da impunidade — afirmou o presidente.

Ao longo do pronunciamento, Temer garantiu disposição para não fugir as "batalhas" e da "guerra" e acusou o procurador-geral de "reinventar" o Código Penal por denunciar alguém baseado em ilações.

— Criaram uma trama de novela. A denúncia é uma ficção.

Temer também questionou a validade como prova da gravação de sua conversa com Joesley Batista, em março passado no Palácio do Jaburu, usada na denúncia. Ele chamou o áudio de "prova armada", já que, segundo peemedebista, o dono da JBS teria sido treinado de maneira prévia. O presidente destacou que recebeu Joesley, fora da agenda e à noite, em razão do tamanho de sua empresa.

— Recebi naquela oportunidade o maior produtor de proteína animal do mundo. Descobri o verdadeiro Joesley, o bandido confesso, quando ele revelou os crimes que cometeu ao Ministério Público sem nenhuma punição. Sobre a perícia realizada pela Polícia Federal no áudio, que descartou a possibilidade de edição, o presidente manteve o argumento de que não é possível usar a prova no judiciário, por ter tem "120 interrupções".  

Ao se apresentar como "vítima" da investida de Janot, Temer tratou de criticar a estratégia da PGR, que vai fatiar as denúncias contra ele – a primeira saiu na segunda-feira e a segunda já está no forno. 

— Querem parar o país, parar o Congresso num ato político com denúncias frágeis e precárias. Não me falta coragem para seguir na reconstrução do país e na defesa da minha dignidade pessoal — disse Temer.

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