Setembro Amarelo, afinal qual é a intenção desse mês ter um significado tão importante?

Publicado em: 14 de setembro de 2023

Estamos no mês de setembro, e como todos os meses do ano tem uma cor e junto dela um significado, este mês não poderia ser diferente. Setembro é marcado pela cor amarela, pois remete à criação da data de conscientização, por conta do suicídio do jovem Mike Emme, nos EUA. Mike era conhecido por sua habilidade com carros e, principalmente, por seu Mustang 68 amarelo. É justamente dessa referência que surgiu a cor.

Convidamos para que relatasse mais sobre esse mês as psicólogas Daiane e Janice. Daiane dos Santos Pedroso, é natural de Fontoura Xavier, tem 41 anos, estudou Psicologia na Universidade de Passo Fundo (UPF), atualmente é pós-graduanda em Neuropsicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), atua na Psicologia Clínica realizando atendimentos em crianças, adolescentes e adultos. Os seus atendimentos são efetuados na Clínica AMIS (Atendimento Multidisciplinar e Integral em Saúde), localizada na Av. 09 de julho, n.º 1978, sala 202, no Edifício Sollar Bella Vista.

Janice Noronha Gomes, tem 33 anos, é natural de Fontoura Xavier, também possui formação em Psicologia pela UPF, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa pela FISEPE, pós-graduada em Neuropsicologia pela UNESC. Desempenha seus atendimentos na mesma clínica que Daiane, as duas trabalham junto, a fim de melhorar a saúde mental dos seus pacientes e auxiliar no que for preciso.

Os altos índices de suicídio registrados no mundo e particularmente no Brasil justificam o fato de esse fenômeno ter-se tornado caso de saúde pública. Órgãos oficiais e entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Nações Unidas no Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o próprio Ministério da Saúde, apontam as principais motivações para que uma pessoa tire a própria vida e também estratégias de prevenção. Nesse sentido, estudos recentes apontam que a prevenção do suicídio é possível e engloba saberes e ações multidisciplinares e intersetoriais, com atividades que envolvam desde a promoção de melhores condições na criação das crianças e adolescentes, passando pelo tratamento de transtornos mentais, até o controle ambiental de fatores de risco. Além disso, a disseminação apropriada de informação e a conscientização são altamente relevantes. Desse modo, em 2015, a partir de uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria, com o apoio do Conselho Federal de Medicina, o Brasil lançou a campanha Setembro Amarelo, inspirada no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, promovido pela Internacional Association Suicide Prevention.

“O objetivo da campanha é informar corretamente a população acerca da prevenção do suicídio, chamando a atenção para essa crise por meio de simpósios, palestras, caminhadas e outras atividades relevantes. Porém, consideramos que a primeira medida preventiva que deve ser adotada, sempre, é a educação. Por isso é importante falar, debater, discutir, porque traz à consciência um assunto sobre o qual muitos evitam até mesmo pensar. Um dos medos que permeiam o tema é o de que, ao falar sobre ele, o número de suicídios aumente. Desta forma, muitas pessoas que pensam em tirar a própria vida, não encontram com quem conversar.” – Pontua Daiane.

“O diálogo franco sobre suicídio pode, ao contrário, fornecer opções a quem não vê alternativas, além de auxiliar no alívio da angústia e da tensão oriundas desses pensamentos. Tanto a morte, como o suicídio é pouco falado, sendo um Tabu, e por isso talvez a incidência ainda seja tão alta. Viemos de uma cultura de que demonstrar tristeza ou frustração é sinônimo de fraqueza. Há estudos que narram que as mulheres pensam 6 vezes mais em suicídio do que os homens, porém os homens suicidam-se mais que as mulheres. E por que será eles cometem mais suicídio que as mulheres? Dentre tantos motivos, o mais relevante pensamos ser o patriarcado, ao qual exige dos homens que sejam durões, bem sucedidos, onde demonstrar sentimentos é de alguém fraco. Nesse sentido, muitos familiares dizem aos meninos desde cedo que homem não chora. Dizer isso a uma criança que está em desenvolvimento psíquico já é abrir portas para futuras somatizações, agressividade e transtornos mentais. Se eu não posso chorar, vou me expressar como?” – Comunica Janice.

Nossas emoções, assim como o corpo físico é um sistema vivo, que busca através de algum sintoma sinalizar quando algo está em desequilíbrio, dentre estes está a ansiedade que é uma emoção necessária para nossa sobrevivência, porém torna-se problemática quando se tornam reações excessivas, persistentes e irreais frente a situações cotidianas. Estamos tão acostumados a viver no automático, que muitas vezes não estamos conscientes de estarmos vivenciando um quadro ansioso, percebendo tal transtorno somente quando passa a incapacitar nossa vida diária. Logo, os transtornos de ansiedade, contribuem para a ideação suicida, porque existe o medo constante, ou seja, nesse estado mental, existe uma ânsia de se libertar de algo que causa mal-estar ou uma angústia como se o sujeito precisasse preencher um vazio que não sabe bem qual é.

“Pessoas ansiosas tendem a pensar que são fracas, impotentes, vulneráveis e por isso, elas subestimam sua capacidade de lidar com suas preocupações. Temerosas, tendem a cometer uma série de erros de pensamento: não toleram a incerteza e sentem grande desconforto em situações novas, com frequência utilizam estratégias de busca de segurança inadequadas para obter alívio imediato da ansiedade e restabelecer uma sensação de conforto e segurança. Uma boa disciplina mental é necessária para enfrentar os estresses, ansiedades e medos da vida contemporânea, apesar de nossos diferentes temperamentos e vivências, a melhora na saúde mental e emocional não acontece acidentalmente, requer comprometimento com a mudança e a adoção de um programa de treinamento eficaz. No entanto, a sociedade explica quem são as maquinas, os astros, mas não nos explica o que viemos fazer aqui. Não sabemos quem somos. E isso está gerando um grande vazio nas pessoas e principalmente nos jovens. O médico Viktor Frankl, assegura que o homem é um ser biopsicoespiritual e tem necessidade de dar sentido à vida e aprofundar-se na sua existência. Para Frankl, a frustração dessa necessidade cria um campo propício ao vazio existencial.” – Menciona Daiane.

Refletindo sobre as relações humanas, observa-se que estamos distantes, conectados mais por meio do celular do que pela própria presença do outro, pouco contato visual, muita competição baseada na falsa ilusão da separatividade. Ousamos dizer, que o que a pessoa busca com o suicídio é a transformação! Ou seja, ela não deseja mais se sentir um fracasso, muitas vezes esse individuo nem imagina sofrer de depressão, ansiedade ou bipolaridade que precisam de estabilizadores de humor para seguir uma vida funcional; ou não esperavam a perda de alguém querido; até mesmo desejam se livrar das drogas ou do álcool, mas não veem saída. Dessa maneira, segundo muitas tradições orientais, afirmam que estamos aqui para ofertar algo, e se não sabemos o que é esse algo, adoecemos! Essas tradições, que falam da vida e da morte, tem como principal conceito; de que o homem deve caminhar em direção à conquista da condição humana. Assim, a natureza espera que cada ser seja aquilo para a qual ela lhe construiu, por exemplo, espera das plantas que façam fotossíntese, espera dos animais que perpetuem sua espécie e espera dos homens, que sejam homens!

“Como terapeutas deslocamos os pensamentos suicidas para uma morte simbólica, uma morte de aspectos conflituosos de nossas vidas que não desejamos mais. Uma morte, talvez representada como uma possibilidade de renascimento. E caro leitor, existe um sentido para a sua vida, vocês estão aqui para conquistar de fato o que SÃO em potência. Não viver de qualquer maneira. Por fim, as terapias com base científica, tornam-se eficazes para 60 a 80% das pessoas com transtornos de ansiedade que completam o tratamento. O pressuposto básico em terapia é que podemos reduzir sentimentos negativos como a ansiedade e outros se mudarmos nossos pensamentos, crenças e atitudes ligados a eles.” – Finaliza Janice.

Logo abaixo as psicologas deixam algumas dicas para você praticar, elas irão ajudar na resolução dos seus problemas:

  • AWARE [CIENTE] de cinco passos para lidar com a ansiedade. Esta estratégia é particularmente útil para lidar com níveis elevados de ansiedade que ocorrem durante a exposição.
  • 1 – Aceite (Accept) a ansiedade. Em vez de lutar contra a ansiedade, concorde em recebê-la; acolha-a como parte da experiência de exposição.
  • 2 – Observe (Watch) sua ansiedade. Observe os sintomas de ansiedade sem fazer juízos. Classifique sua experiência ansiosa e depois a observe ir e voltar.
  • Separe-se da ansiedade e observe-a como se estivesse à margem assistindo a um desfile passar.
  • 3 – Aja (Act) com a ansiedade. Normalize a situação de exposição e aja como se você não estivesse ansioso. Vá mais devagar se necessário, respire fundo umas duas vezes e mantenha-se ligado à situação.
  • 4 – Repita (Repeat) os passos. Repita os Passos 1 a 3 até que sua ansiedade diminua para um nível mais suave mais aceitável.
  • 5 – Espere (Expect) o melhor. Não seja surpreendido pela ansiedade. Aprenda a esperar que você vai sentir ansiedade nas situações de exposição. Corrija eventuais falsas expectativas de que a ansiedade pode ser totalmente derrotada para sempre. Em vez disso, substitua pelo objetivo de reforçar sua habilidade de tolerar a ansiedade. Desta forma você assume o controle da ansiedade em vez de deixar que ela controle você.
  • Reserve espaço no seu dia para trabalhar em seu autoconhecimento, horário e local específicos para completar as tarefas, use os exercícios para praticar sua capacidade de identificar pensamentos ansiosos e refinar suas habilidades de enfrentamento durante episódios de ansiedade. Acima de tudo, deixe que a ansiedade recue naturalmente e continue PRATICANDO, PRATICANDO, PRATICANDO as habilidades cognitivas e comportamentais em situações de ansiedade na vida real.

Fotos: Daniela Fiorentin

Escrito por: Jemily Rodrigues, Daiane Pedroso e Janice Noronha

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