Pesquisador do RS participa da descoberta de aglomerado de 58 galáxias em zona de sombra da Via Láctea

Publicado em: 26 de abril de 2023

Uma estrutura composta por 58 galáxias localizada a uma distância aproximada de 3,5 bilhões de anos-luz da Terra foi descoberta por pesquisadores do Brasil, da Argentina e do Chile. O artigo, publicado na revista científica “Astronomy & Astrophysics” e liderado pela pesquisadora Daniela Galdeano, aluna de doutorado na Universidade Nacional de San Juan, da Argentina, contou com a participação do professor Rogério Riffel, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O aglomerado está na “zona de sombra”, longe da Via Láctea, uma galáxia com quatro braços em espiral e uma região central densa e amarelada chamada “bojo”. Ela abriga vários sistemas de estrelas, como o Sistema Solar – onde estamos. “Quando olhamos para ele, olhamos através da região central”, fala o professor. No local, há muita concentração de estrelas, gases e poeira, o que impede que se tenha uma visão clara do outro lado.

A equipe já havia suspeitado da existência de galáxias nesta área, a partir de um levantamento realizado pelo Vista Variables in Via Láctea (VVV), um telescópio que está no Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, que mapeou frequências próximas ao bojo da galáxia, onde há intensa formação de estrelas. Sendo assim, Daniela entrou em contato com Rogério, o convidando para fazer parte do grupo.

“Foi um projeto que me chamou a atenção. Ser uma das primeiras pessoas a pôr o olho em um novo objeto astronômico é bastante interessante”, explica o professor.

Os pesquisadores precisavam verificar se esses grupos de objetos [galáxias] estavam na mesma distância. Primeiramente, uma amostra de cinco galáxias foi escolhida para a espectroscopia no infravermelho, técnica que permite medir a emissão e a absorção de diferentes corpos celestes. Então, Rogério pôde determinar que se tratava de um aglomerado de galáxias escondidas através do centro da Via Láctea.

“No centro da galáxia tem muito poeira, então, se você está tentando olhar através do centro da galáxia e olhar coisas que estão atrás, você não vai conseguir fazer isso no óptico, você vai ter que ir para comprimentos de ondas que te permitam ver as coisas lá. É aí que entra o infravermelho”, fala o pesquisador.

Segundo o pesquisador, há um efeito de extinção da luz, provocado pela grande quantidade de grãos de poeiras. A “sujeira” tem tamanho compatível com os comprimentos de onda ópticos ou até maiores. Então, o fóton chega em comprimentos de ondas infravermelhos, um tipo de radiação eletromagnética que atravessa os grãos, sendo possível enxergar os objetos do outro lado.

“O fóton infravermelho é maior e consegue desviar”, completa o pesquisador, que cita um exemplo bem próximo para comparar: o pôr do sol.

Por do sol, é um exemplo. Se você for à hora do almoço, você não conseguiria olhar direto, mas, no fim do dia, você pode olhar o pôr do sol, porque o sol está mais vermelho. A luz está passando por uma camada muito maior na atmosfera do que ela estava passando no horário do almoço. Isso é o tal do avermelhamento”, explica Rogério.

‘Curiosidade’

De acordo com Rogério, sem a ciência básica, feita sem uma pergunta de aplicação imediata, não seria possível chegar a resultados, como esta descoberta.

“O que move parte da astrofísica é a curiosidade de entender as coisas”, fala o pesquisador.

Para ele, a ciência é algo colaborativo e não competitivo. É preciso colaborar para avançar. Agora, o próximo passo do estudo é determinar a massa deste aglomerado, medindo a diferença de velocidade entre eles.

Escrito por: G1 RS

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