Publicado em: 7 de abril de 2022

Por volta dos anos 80, foi localizada em Fontoura Xavier uma pedra coberta de entalhes misteriosos que gerou grande curiosidade nos moradores locais. Depois de vários estudos e trâmites em torno do artefato, o Poder Público Municipal deu início nesta semana, aos processos de liberação  para que volte ao Município, juntamente com os resultados das pesquisas e fique disposta para que todos os moradores da região tenham a oportunidade de ver e acessar o conhecimento fornecido através dos estudos realizados.

De acordo com informações do Historiador, Armando Ezequiel Graff, com o baixo acesso às informações da comunidade local, a pedra passou a ser parte de lendas contadas pelos mais antigos, chegando inclusive a ser considerada como ornamento de uma sepultura de um rei. Com o passar dos anos, se formaram inclusive romarias direcionadas para a localidade da pedra. Também, em decorrência de crendices populares, houve o boato de que o interior da pedra continha ouro, o que motivou moradores a partirem ela, com o intuíto de se apropriarem da riqueza que supostamente estaria em seu interior.

Com o passar do tempo, a Prefeitura Municipal de Fontoura Xavier decidiu que iria trazer algo para adornar a Praça Municipal, e com isso, o então vice-prefeito, Jair Rampanelli, lembrou da pedra, que se encontrava na sua propriedade adquirida a pouco tempo atrás.

Com a decisão tomada, a pedra foi deslocada até o galpão da Prefeitura Municipal e em seguida, encaminhada para Porto Alegre, ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), onde foram realizados estudos. As partes que haviam sido partidas, foram novamente coladas e foi realizada a limpeza. Com a liberação da pedra, o IBPC liberou a salva-guarda da mesma e retornou ela para o Município.

Devido a falta de projeto para a exposição da pedra com as devidas proteções para preservar a mesma, ela foi deixada no Parque de Rodeios do Município. Foi então que os alunos do curso de História da Universidade de Passo Fundo (UPF), juntamente com o professor Fabrício Vicroski, entraram em contato com a Prefeitura de Fontoura Xavier e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, antigo IBPC), para que fosse permitido um novo estudo das grafias e origem da pedra, já que as primeiras pesquisas não haviam resultado em respostas significativas.

Com a chegada na UPF, e o auxílio das tecnologias modernas, foi iniciado então um novo estudo, onde também a turma de alunos recebeu outros relatos de pedras com gravuras na mesma região. Ao longo dos estudos, foi constatado que as demais pedras localizadas posteriormente se tratavam apenas de entalhes feitos por um morador local por diversão, e não se tratavam de algo realmente histórico. Foram detectados também, alguns entalhes na pedra histórica, que também teriam sido feitos posteriormente pelo mesmo morador, sobre a arte que já estava lá a aproximadamente 600 anos.

As pesquisas trouxeram resultados importantíssimos para a história do Município e do País. A pedra se trata de uma Demarcação dos Hervais e é a única encontrada na América Latina deste tipo. Os entalhes deste Marco são datados das primeiras 14 Reduções Jessuítas, ou seja, das Missões Jessuíticas mais antigas.

Se tem conhecimento de que uma das sedes destas Reduções Jessuíticas era localizada entre Barros Cassal e Soledade, mas até o momento, nenhum marco do tipo foi encontrado nas localidades. Existe a possibilidade de que existam outros marcos de divisa existam na região e ainda não tenham sido localizados.

Hoje a pedra está localizada no laboratório de Cultura Material e Arqueologia da Universidade de Passo Fundo (UPF). O Prefeito Municipal, Luiz Armando Taffarel, acompanhado do historiador Armando Ezequiel Graff, se deslocou na última terça-feira (05) até Passo Fundo para os devidos trâmites.

Segundo o Prefeito Municipal, Luiz Armando Taffarel, já está sendo elaborado o projeto para a disposição da pedra. “Se trata de parte da história de Fontoura Xavier e a prefeitura faz questão de trazer a pedra para que todos possam conhecê-la”, afirma o Prefeito, ressaltando a importância de trazer tal marco histórico de volta para o Município.

Também de acordo com o historiador, Armando Ezequiel Graff, é importante que os moradores se sintam seguros em informar quando localizam algum artefato potencialmente histórico. “Os proprietários normalmente tem medo de perder parte de sua propriedade, mas quero salientar que existem leis no Brasil que asseguram a propriedade privada. Aquele que encontra artefatos, não tenha medo de nos procurar, no maximo serão realizados estudos no local onde foi encontrado o objeto, iremos tirar algumas fotos e catalogar o achado. Em momento algum, a propriedade está em risco”, finalizou Armando.

A liberação do marco histórico ainda depende da IPHAN e da entrega do projeto para a exposição segura.

Escrito por: Andressa Rauber/ Clic News