Guerra do Fão é um dos principais fatos históricos ocorridos em Fontoura Xavier

Publicado em: 6 de julho de 2021

Entre os acontecimentos históricos, talvez o mais destacado tenho sido a Guerra do Fão, em 1932, por ocasião da Revolução Constitucionalista. A professora, historiadora e doutora em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento (UNIVATES), Janaíne Trombini, publicou um livro com a história da Guerra do Fão.

De acordo com a Historiadora, para a região foi um momento representativo da política brasileira, envolvendo muitos partidários que lutavam pela constituição. “Os levantes armados representaram um momento político do Rio Grande do Sul em que pessoas contrárias a um dos ícones rio-grandenses – Getúlio Vargas – apoiaram a causa paulista mesmo reprimidos por forças governamentais gaúchas”, disse.

Depois de uma caminhada de pesquisa de praticamente 10 anos, já com o trabalho de conclusão do curso de História (2010) e artigos publicados, Janaíne tinha a ideia de fazer um livro. Também, a prefeitura de Fontoura Xavier a procurou para realizar mais este sonho. No ano de 2015, o município completou 50 anos e na oportunidade foi lançado o livro “O Combate do Fão de 1932:Um Episódio Da Revolução Constitucionalista no Rio Grande Do Sul” e distribuído nas escolas para um melhor entendimento sobre o confronto. Normalmente no mês de setembro escolas da região e entidades me procuram para realizar palestra e atividades sobre.

“Também conseguimos publicar o  artigo “A Revolução Constitucionalista de 1932 no Vale Do Taquari/ Rio Grande Do Sul”, pois além do Combate do Fão ocorreram outros levantes ocorridos nos municípios de Encantado, Lajeado e Progresso, no Vale do Taquari, os quais representaram movimentos sociais e políticos em apoio da causa paulista, porém foram todos reprimidos pelas forças governamentais. A publicação do livro é uma forma de divulgar as informações e valorizar este episódio político e histórico para a região do Vale do Taquari e Botucaraí, e também para o Rio Grande do Sul”, conta.

O que foi a Revolução Constitucionalista de 1932:

Durante a República Velha (1880-1930) a alternância de poderes conhecida como República do Café com Leite, acontecia entre São Paulo e Minas Gerais. Nas eleições de 1930, o paulista Washington Luís deveria assumir, porém Getúlio Vargas apoiado pelos mineiros assumiu com o golpe do Estado. Getúlio Vargas havia prometido nova eleição depois de assumir o poder e não cumpria a promessa da democratização do país por meio de convocação da Assembleia Constituinte.  Com a demora da Constituinte, em 7 de julho de 1932 é deflagada a Revolução Constitucionalista em São Paulo.

O chefe do governo provisório Getúlio Vargas procurava punir os militares que haviam empastelado o diário Carioca e os gaúchos que ocupavam cargos no ministério se retiravam. Esses eram soledadenses do Partido Republicano e Libertador, como Maurício Cardoso, Borges de Medeiros e Raul Pilha. Todos solicitaram a Getúlio uma imediata reconstitucionalização do país. Voltaram ao Rio Grande do Sul e em 14 de agosto de 1932 saíram para o interior para mobilizar as pessoas e militares por um apoio a São Paulo e a Combater o Interventor e a ditadura. Este que agora andava sozinho, pois Minas Gerais e Rio Grande Do Sul apoiariam Getúlio Vargas.

Paralelamente o Rio Grande do Sul também participou. O interventor do Estado Flores da Cunha, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas colocou corpos provisórios em todos os municípios do estado. Em Soledade foram dois corpos criados, o 44º com o comando de Coronel Pedro Correa Garcez, do partido Republicano e o 33º era comandado por Coronel Candido Carneiro Junior, do partido Libertador, mais conhecido como Candoca.

Os principais membros do partido republicano e libertador de Soledade articularam-se a formar um levante para apoiar São Paulo. Candoca traiu Flores da Cunha e o mesmo atacou o 44º corpo provisório onde manteve presos os oficiais do corpo.  Em 1º de setembro de 1932 assinam o manifesto e partiram rumo a São Paulo. No dia 12 de setembro ocorreu um combate entre as forças de Candoca e do governo, chamado de Combate do Fão de 1932.

General Candoca – Fonte: Arquivo Histórico de Soledade.

– Um resumo sobre o que foi o Combate do Fão – Dados gerais:

O confronto histórico-político que tem o nome do Combate do Fão é resultante da Revolução Constitucionalista de 1932. No dia 12 de setembro de 1932, há exatamente 88 anos atrás houve confronto entre as tropas liderada pelo General Candoca do partido Libertador e as forças governamentais, lideradas pelo General Severo, do lado de Flores da Cunha. O principal motivo deste confronto é que estes “rebeldes” estavam apoiando a causa paulista a favor de uma constituição esperada há mais de 2 anos, promessa feita pelo líder Getúlio Vargas quando tomou o poder em 1930.

Importante ressaltar que a tropa liderada por Candoca, registradas em torno de 1000 homens saiu de Soledade em 1º de setembro, passando por regiões desdobradas e montanhosas desde o interior de Soledade e Barros Cassal. No 8 de setembro na Barra do Bras (Barros Cassal), chegou um rapaz dizendo ser filho de um amigo de Candoca e gostaria de saber por onde eles iam passar para chegar até São Paulo. Na verdade, o rapaz era filho do seu Pinto “o caçador dos revolucionários” e obtendo a informação que o grupo de Candoca iria passar pelo rio Fão os militares, representantes do governo, poderiam planejar o ataque.

Já no dia 12, chegaram na planície do rio Fão e a tropa estava espalhada em todos os morros do local, quando um dos combatentes, Rosauro Tavares, que estava em cima do morro, avistou tropas se movimentando. Sobre isto Jorge de Paula (1933, p. 66, grifo do autor) informa:

No dia 12 de setembro se acamparam em torno do Rio Fão as tropas de Candoca. Ouviram-se os primeiros sinais de descarga. As 9 horas da noite ouvi descargas no acampamento, vieram a minha cama alguns rapazes, perguntando:

– Não ouviu descarga no acampamento?

– Não – respondi.

– Pois houve descargas lá.

– Isso não passa de um ou dois tiros que deram de bobagem ou nalgum fantasma que apareceu lá. Um ou dois tiros – principalmente a noite – nestas serranias, faz eco que parece descarga.

– Não…foi de 50 a 60 tiros, e parece rajada de metralhadora.

 

Em 13 de setembro, às margens do rio Fão, durante o alvorecer ouviu-se os primeiros tiros, marcando o início do combate. O combate com as tropas do governo durou em torno de seis horas até que o grupo de Candoca, esgotando munição, precisou retirar-se pelo mato atravessando o arroio Duduia.  O conflito resultou em mortes ainda “não certas”, pois uns falam em 6, outros 8, 100 e até mais, mas somente com estudo arqueológico será viável saber o correto número.

Foto do local do Combate – Fonte: Kreutz e Trombini, 2010.

Cemitério do combate – fonte: Trombini, 2016.

 

 

O que o Combate representa para o Estado e região:

O Combate do Fão é muito relevante historicamente para nossa região e o Rio Grande do Sul. Dentro do Rio Grande do Sul tiveram grupos de revolucionários que almejavam apoiar a causa paulista constitucionalista e tinham como principais motivos a apoiar o estado de São Paulo, a insatisfação política e social pela nova constituição e os lugares do estado que ocorreram manifestações com tropas governamentais, como o caso dos municípios de Santa Maria, Caçapava do Sul, Lagoa Vermelha, Soledade, entre outros. Sendo assim, entende-se que todos os levantes nos territórios do Rio Grande do Sul a favor da Revolução de 1932 foram reprimidos pelas forças militares do interventor do estado. O interventor do estado do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, não apoiou São Paulo e se manteve ao lado de Getúlio Vargas, colocando corpos auxiliares em todas as regiões do Rio Grande do Sul para que possíveis levantes e confrontos não acontecessem. Apesar disto, surgiram muitos revoltosos que formaram levantes para apoiar a causa paulista, recebendo apoio de líderes partidários da FUG (Frente Única Gaúcha), como Borges de Medeiros, Raul Pilla e Batista Luzardo, que de uma maneira ou outra influenciaram os combatentes a apoiar a causa paulista.

Os envolvidos no Rio Grande do Sul estavam dispostos a juntar-se ou apoiar a Revolução Constitucionalista e tiveram assim um ato de coragem, devido às forças governamentais estarem mais equipadas em armamentos e número de homens, não tinham sequer chances de vitória. Mesmo assim, os municípios mantiveram os objetivos de seguir com o apoio à Revolução de 1932 e os levantes consequentemente foram todos reprimidos.

 

O que ainda falta pesquisar ou saber sobre o combate:

Devido a repercussão da pesquisa e interesse de muitas pessoas sobre o Combate do Fão acredito que muito já foi realizado, ajudando a compreender este fato histórico. Mas como historiadora e pesquisadora penso que muitas coisas podem ser ampliadas. Gostaria de visitar outras cidades que tiveram confrontos como este, tentando encontrar materiais e articulações sobre. Um parente sobrinho do Candoca está realizando uma pesquisa mais também sobre o Combate do Fão que deve ser lançada nos próximos meses.

Outra questão interessante, e que penso realizar juntamente com o apoio municipal e cientifico se conseguíssemos fazer um “estudo de caso” onde ocorreu o confronto possibilitando encontrar vestígios como restos de munições e que tipos. Ainda, aprofundado no próprio cemitério do combate, pois não temos certeza da quantidade de mortos e se ele é realmente neste local.

Não muito tempo, pessoas do município de Arvorezinha me procuraram que possivelmente em uma comunidade do interior próximo a Fontoura Xavier, ocorreu um confronto entre dois grupos e que teria conexão com o Combate do Fão. Neste mesmo local, tem um cemitério que estaria enterradas essas pessoas e uma pedra com sinais de cruzes, que poderia ser um marco do confronto. Não se encontrou especificamente material bibliográfico ou documentos sobre, mas diversas histórias orais. No entanto, como respingo da divulgação sobre o Combate do Fão e outros episódios, estou encontrando relações e materiais que possam ajudar a ampliar este momento histórico em nossa região.

 

 

 

 

Escrito por: Clic News/ Livro O Combate do Fão de 1932: Um Episódio Da Revolução Constitucionalista no Rio Grande Do Sul

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