Entenda por que tantos vegetais ‘gigantes’ estão aparecendo no RS

Publicado em: 24 de maio de 2023

Nos últimos dias, casos de vegetais com tamanhos um tanto “avantajados” têm chamado a atenção no Rio Grande do Sul. Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, uma abóbora de 26 kg e 95 centímetros de comprimento foi colhida no quintal de uma casa.

Já em Rondinha, no Norte do estado, um produtor colheu uma mandioca de 6,3 metros, pesando 23 kg. Em Rolante, uma batata-doce com mais de 14 kg foi encontrada.

O g1 foi atrás das causas para esse fenômeno.

De acordo com José Ernani Schwengber, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado,, com sede em Pelotas, no Sul do estado, o fenômeno registrado em solo gaúcho chama a atenção, mas não é exatamente raro e tem explicações particulares para cada um dos casos.

“Quase todos os anos acontece um fenômeno do tipo em determinada região, acaba chamando atenção da população e chega à mídia. Não é frequente, mas acontece”, comenta Schwengber.

Segundo o pesquisador, é preciso separar as possíveis explicações para o fenômeno, diferentes para o caso das abóboras e frutos em geral, por um lado, e para as mandiocas, batatas-doces e raízes e tubérculos em geral, por outro.

Abóboras

A abóbora cresce a partir de uma planta rasteira da família das cucurbitáceas, a mesma das melancias, dos melões, entre outros. Ela é um fruto pesado, em termos relativos, mas o caso da abóbora do empresário Gilmar Back, de Santa Cruz do Sul, fugiu “um pouquinho” do normal: ele colheu uma do quintal que pesava 26 kg e tinha 95 centímetros de comprimento.

De acordo com Schwengber, a ocorrência de abóboras “gigantes” está diretamente relacionada à semente que deu origem à abóbora. Não há muita explicação em termos de clima ou cultivo para que o fruto se desenvolva nessa proporção.

“No caso da abóbora, há sementes selecionadas para o cultivo de abóboras de grande tamanho. Nos Estados Unidos, por exemplo, há o concurso nacional de maior abóbora. Eles selecionam o material para as abóboras gigantes”, complementa Schwengber.

Gilmar, por exemplo, disse à RBS TV que plantou as sementes de uma abóbora que havia ganhado de um amigo. Segundo o pesquisador, há um mercado já desenvolvido em vários países que lida com sementes voltadas ao cultivo de frutas gigantes, como na Alemanha e dos Estados Unidos.

Mandiocas e batatas-doces

No caso das mandiocas, que são raízes tuberosas, e das batatas-doces, que são tubérculos, a situação é diferente. Conforme o pesquisador da Embrapa, a ocorrência de vegetais gigantes nesses casos é decorrente de uma série de variáveis, incluindo o tempo de plantio, o clima e o solo.

“Não existem cultivares específicos para raízes e tubérculos gigantes. Mas, em alguns casos, as bases ambientais são propícias para o desenvolvimento desses tubérculos gigantes”, comenta o pesquisador.

No Rio Grande do Sul, de acordo com Schwengber, a mandioca é costumeiramente plantada em setembro e sua colheita começa em março e pode se estender até julho – portanto, pode-se dizer que o tempo médio de desenvolvimento da raiz varia entre seis e 10 meses. Schwengber também afirma que o frio intenso prejudica o desenvolvimento da mandioca, o que justifica o período em que ela é plantada aqui no estado.

Na última semana, uma mandioca colhida em Rondinha, no Norte do estado, chamou a atenção: ela media cerca de 6,3 metros e pesava 23 quilos. Consoante o produtor Idemar Delarmelin, dono da propriedade em que a raiz foi cultivada, a mandioca tinha dois anos e meio, tendo sido plantada no fim de 2020.

Segundo Schwengber, esse plantio muito acima do tempo médio pode ter contribuído sensivelmente para o tamanho avantajado do vegetal.

“A primeira raiz da mandioca é fina. Se o solo for fofo o bastante, essa raiz pode crescer ainda mais e, posteriormente, engrossar. No caso da mandioca de 6,3 metros, a raiz já tinha dois anos e meio. Se houver um frio muito intenso, a planta pode morrer em até oito meses. Se não houver um inverno muito forte e a planta puder se desenvolver, essa mandioca pode durar até dois anos e meio, como foi o caso”, detalha o pesquisador.

O engenheiro-agrônomo também explica que um pé de mandioca pode produzir até 10 raízes diferentes. Contudo, eventualmente pode ser que essas raízes se tornem uma só, como Rondinha. Além do tempo, o solo e a sorte, fatores como a adubação devem ser considerados: além de nutrir a raiz, ela facilita a presença de fungos que alimentam a raiz ao longo do cultivo.

No caso da batata-doce, as explicações são semelhantes. Um caso chamou a atenção, também em maio: em Rolante, a cerca de 90 km de Porto Alegre, uma batata-doce de 14,6 kg foi colhida em uma propriedade.

“Com a batata-doce, pode acontecer o mesmo (que no caso das mandiocas). Mas ela é um tubérculo, então vai acabar crescendo em diâmetro, e o crescimento vai acabar se concentrando em apenas um produto. Não é um caso raro, mas não acontece com frequência”, explica Schwengber.

Podemos comer esses vegetais “gigantes”?

O pesquisador da Embrapa reforça não haver qualquer problema em consumir abóboras, mandiocas e batatas-doces gigantes. De acordo com Schwengber, o único empecilho claro nesses casos é a pouca praticidade dos produtos, o que acaba fazendo com que os vegetais colhidos não sejam atrativos.

“Acho muito difícil que um agricultor, exceto se seja por curiosidade, vá fazer alguma prática [para tornar seus produtos gigantes] porque esses produtos perdem valor de mercado. O consumidor quer uma raiz curta, preferencialmente já descascada, por ser mais prático”, comenta o engenheiro-agrônomo.

Schwengber explica, por exemplo, que o cozimento de uma mandioca de dois anos e meio, como a de Rondinha, pode durar até 40 minutos, o dobro de uma mandioca colhida em tempo considerado normal, de seis meses.

O pesquisador também afirma que esses casos de desenvolvimento de grandes vegetais acontecem fortuitamente por todo Brasil, não sendo um privilégio do Rio Grande do Sul.

“Alguns estados, como Paraná e São Paulo, que plantam mandioca para a produção industrial, têm cultivos de até um ano e meio, o que pode fazer com que se desenvolvam raízes maiores. Mas nada a ver com o clima ou o solo”, finaliza Schwengber.

Escrito por: G1 RS

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