Emoção de testemunha e ausência do réu marcam 2º dia do júri de Leandro Boldrini

Publicado em: 22 de março de 2023

Depoimento da vizinha da família, Juçara Petry, que costumava acolher em sua casa o menino assassinado em 2014, foi pontuado por lágrimas e pausa.

O segundo dia do novo júri de Leandro Boldrini, nesta terça-feira (21), foi encerrado às 19h40min e será retomado na quarta (22), a partir das 9h. O médico, que é acusado de ser o mentor intelectual do assassinato do filho Bernardo, aos 11 anos, em 2014, não participou da sessão. Instantes antes de entrar no local, às 8h30min, Boldrini passou mal, precisou de atendimento médico e foi levado de volta ao presídio. A expectativa é de que o julgamento se encerre entre quinta (23) e sexta-feira (24).

Em um depoimento com pouco mais de duas horas, que encerrou a sessão desta terça, Juçara Petry foi às lágrimas diversas vezes, e em uma delas a sessão precisou ser interrompida para que a testemunha pudesse se recompor. Foi quando ela lembrou do dia em que deu dinheiro para Bernardo comer, uma das últimas vezes que recorda ter visto o menino vivo.

— Acho que era uma quarta-feira, eu estava no trabalho. Ele chegou e disse que não tinha almoçado, e isso já era de tarde. Eu não ia conseguir ir com ele aquela hora, então dei dinheiro para ele comer. Eu disse para comprar algo que alimentasse bem, não lanche. Para comprar suco e não refrigerante. Aí ele foi, comeu e voltou. Ele trouxe o troco para mim. É muito triste lembrar tudo isso — disse Juçara, levando as duas mãos ao rosto.

Juçara afirmou que, no dia anterior a esse fato, Bernardo havia almoçado com ela e sua família. A relação entre o garoto e a testemunha era tão forte que o menino tinha a chave da casa dela.

— Ele vivia na rua, então demos a chave para ele ficar lá. Quando a gente ia levar ele na casa dele, era sempre um estresse. Se íamos buscar algo, como um material escolar, não dava para entrar, às vezes, não estavam em casa. Ele nunca perdeu a chave da nossa casa, não deixava porta aberta. Era cuidadoso — relembrou.

Juçara relatou momentos que teve com o menino e declarou que nunca reclamou da presença de Bernardo. Segundo ela, o garoto era acolhido como um filho também pelo seu marido, Carlos Petry.

— Ele era um parceiro. Era um pedacinho de mim — lembrou, sorrindo.

A testemunha lembrou ainda que Bernardo, muitas vezes, não tinha lanche para levar para a escola e que, por isso, abriu uma conta na cantina, e ela acertava os valores no fim do mês. Ela contou também que o menino usava roupas e calçados velhos, e chegava em sua casa de chinelo de dedo, mesmo em dias de frio no município.

Questionada pelo Ministério Público se havia sido indagada por autoridades ou psicóloga a respeito de um possível interesse dela na guarda de Bernardo, Juçara relatou ter sido procurada “duas ou três vezes” pelo Conselho Tutelar, para explicar por que Bernardo estava sempre na casa dela e como era o tratamento que os pais dispensavam ao menino. Pela Justiça, explicou, houve alguns telefonemas no sentido de indagar sobre esse possível interesse na tutela de Bernardo:

— Eu já tinha dito, ele tem avós, ele tem tios, ele tem pai, como é que eu vou querer a guarda dessa criança? Nesse período, eu estava tratando um problema sério de saúde, meu marido também tinha acabado um tratamento pesado, como é que eu ia pedir a guarda de uma criança se eu não sabia o que eu podia esperar da minha saúde dali para a frente?

O julgamento

  • Nesta quarta-feira (22), ainda deve ser ouvida mais uma testemunha de acusação, que seria uma psicóloga que atendeu Bernardo;
  • Depois, serão ouvidas quatro testemunhas de defesa;
  • A previsão é de que o réu seja ouvido na quinta-feira (23) pela manhã;
  • O julgamento deve se encerrar entre quinta e sexta-feira (24).

A situação dos demais réus

  • Graciele Ugulini (madrasta) — condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, está presa no Presídio Feminino Madre Pelletier com previsão de progressão para o semiaberto em 2026;
  • Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) — condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão em regime inicial fechado, cumpre pena no regime semiaberto no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre;
  • Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania) — condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e atualmente em liberdade condicional.

 

 

Escrito por: GZH

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