Como deixar de ser refém de uma só ponte

Publicado em: 28 de março de 2021

A limitação de tráfego sobre a ponte do arroio Boa Vista reacende a necessidade de mais ligações entre os municípios da região. Neste sábado completa 14 dias do acidente, em que um caminhão tombou sobre a pista e explodiu.

Pela análise da CCR Viasul, houve danos que comprometeram a estrutura e trazem risco de desabamento. O prazo previsto para a reforma na passagem é de até seis meses. Nos pontos menos atingidos, são feitas melhorias e a passagem em um lado, das duas faixas, será liberada até o dia 13 de abril.

Os últimos dias foram de transtornos nos desvios. Vias vicinais em Estrela, Colinas, Imigrante registram aumento de fluxo e danos nas passagens devido ao excesso de peso.

Nas rodovias, carretas mais pesadas, como bitrens, precisam ir para as estradas estaduais, para quem vem da Região Metropolitana, o caminho precisa ser feito por Taquari, até Venâncio Aires para depois se dirigir a Lajeado. Um trajeto que aumenta em mais de 120 quilômetros a viagem.

Vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do RS (Setcergs), e diretor de uma transportadora na região, Diego Tomasi, destaca: “os últimos dias foram de grandes desafios. As entregas estão sempre atrasadas devido aos congestionamentos.”

Conforme o representante das empresas, o momento para a logística tem sido difícil, devido à alta no preço do diesel. Na região, com mais percurso, o gasto é ainda maior para caminhões como os rodotrens. “Estimamos que houve um gasto de 5% no custo da operação logística”, diz Tomasi.

Essas condições fazem com que líderes locais retomem a mobilização para haver mais pontes entre as cidades do Vale. Em meio às diversas reuniões, três sugestões foram apresentadas.

Uma interligação entre Cruzeiro do Sul até a Trans Santa Rita, em Estrela. Uma ponte ao lado do porto, próxima da já existente entre Lajeado e Estrela e, por fim, uma interligação entre Arroio do Meio, no bairro São Caetano, até Colinas, com acesso também ao município de Imigrante.

Por enquanto, essas são ideias, sem qualquer análise de viabilidade técnica ou financeira. O secretário estadual de Transportes e Logística, Juvir Costella, frisa que ainda é cedo para falar em construção de pontes. “O que temos de ver agora é a viabilidade disso. Apontar qual município, ou qual local para uma nova passagem, ainda é precipitado.”

Em conferência com prefeitos da região, o secretário determinou o início dos estudos de viabilidade de novas pontes sobre o Rio Taquari. A equipe técnica do Daer será responsável por avaliar as condições técnicas das sugestões.

Em reunião nesta semana, agentes públicos e representantes de entidades empresariais debateram possíveis alternativas. Na ligação entre Lajeado e Estrela, o arquiteto Leandro Eckert, vice-diretor de Infraestrutura da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e integrante da diretoria da CIC, apresentou a sugestão de uma segunda passagem, próxima à atual ponte sobre o Rio Taquari.

“Para mim, é a ideia mais plausível, a mais rápida, a mais econômica e mais eficiente. Vai tirar 40% do fluxo no horário de pico entre Lajeado e Estrela”, defende.

A segunda ideia, dos governos de Estrela e Cruzeiro do Sul, seria de uma interligação da Trans Santa Rita, com acesso às rodovias estaduais 453 e 129. O vice-prefeito de Estrela, João Carlos Schäfer, ressalta a importância de considerar todo o anel rodoviário. “Precisamos nos basear em estudos técnicos que aponte a melhor solução para agora e para os próximos 50 anos.”

Por fim, uma possibilidade vista pelas autoridades seria a construção de uma passagem entre Arroio do Meio até Colinas, com ligação para Imigrante. Essa interligação, na análise dos governos municipais, diminuiria os trajetos para escoamento das produções primárias e chegada até as indústrias.

Movimento conjunto e de longo prazo

O presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, destaca o intuito do movimento regional. “Precisamos ver o que é melhor não só para uma cidade ou outra, mas para o Vale e para o estado.”
Engenheiro civil por formação, frisa a complexidade das obras de pontes. “Não basta passar por cima do rio. É preciso ter acesso. Para isso, tem desapropriações, tem áreas de proteção permanente, além de saber o tipo de trânsito que o local irá receber.”

Sobre as três ideias de interligações, Rosa avalia que todas têm aspectos positivos e limitações. “O mais importante do que escolher o local é saber se essa ponte será a solução. Se, efetivamente, vai representar ganho de transporte e de logística. Não podemos errar o tiro.”

Essas sugestões, diz Rosa, precisam fazer parte de um movimento coletivo da região e de longo prazo. “O mais viável agora é o conserto da ponte do arroio Boa Vista. É nisto que nos concentramos.”

A CIC-VT e os gestores públicos, tanto do Estado quanto da região, integram o comitê de emergência formado junto com a CCR Viasul, responsável pela concessão da BR-386. O grupo se reuniu na manhã dessa sexta-feira. A organização local cobra agilidade para conclusão da reforma para reduzir o prazo previsto de seis meses.

Escrito por: A Hora

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