Qual o papel dos pais na educação de seus filhos?

Falar em educação e aprendizagem é, também, falar com a família. Qual o papel dos pais na educação de seus filhos?

Não falo aqui de “educação” no sentido de aprendizagem ou de respeito – não que tais habilidades sejam desnecessárias, pelo contrário. Refiro-me, porém, à educação socioemocional das crianças, visto as emoções serem chaves da aprendizagem e do convívio social – em outras palavras, daquilo que tradicionalmente entendemos como “educação”.

Somos nós, adultos, os responsáveis pela formação de grande parte da personalidade e do caráter de nossos pequenos, ou seja, somos nós quem, indiretamente, decidiremos o que e como eles serão, bem mais pelos exemplos dados e pelos universos aos quais oportunizamos que a criança venha a expor-se que, necessariamente, pela atenção aos critérios que aprendemos a definir como “regras de educação”.

Sendo assim, é preciso cuidado extremo ao antagonismo entre o que defendemos e o que realmente praticamos. Afinal, discursos desvinculados da prática não somente nos desautorizam frente às crianças, mas também ensinam a eles que é possível mentir, burlar e enganar, ou seja, é possível dar o famoso “jeitinho”, mesmo que este possa prejudicar outras pessoas. A máxima “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona no universo infantil e pode exercer influências devastadoras na formação de nossas crianças. Portanto, cuide: se não puder fazer, simplesmente não fale, assim você evita uma série de confusões em uma mente em formação que ainda não construiu os mecanismos necessários para distinguir o certo do errado.

Também somos nós, adultos, os responsáveis pela construção da autoimagem infantil, que acompanhará nossas crianças pelo resto de suas vidas. Dessa forma, convém repensar os padrões opressores e punitivos criados pela sociedade, os quais determinam modelos muitas vezes questionáveis e que podem ser altamente prejudiciais na vida real. Eu sei que queremos sempre o melhor para nossos filhos, mas esse querer exige atenção. Dessa forma, policie-se para evitar comparativos: não existem duas pessoas iguais, então é impossível comparar sem prejuízo de alguém. Nunca diga à sua filha de oito anos que ela deve emagrecer para ficar “linda como fulana”, tampouco fale para o menino com limitações motoras que ele “jamais poderá ser um jogador de futebol”. Palavras assim, ditas com “a melhor das intenções, somente para mostrar a realidade”, podem matar os sonhos e limitar o desenvolvimento infantil.

Somos os exemplos. Não adianta cobrar respeito de seus filhos se você não respeita os demais, dessa forma, não diga que bebida alcóolica faz mal se você consome, não diga que cigarro mata se você – ou alguém próximo – fuma. Não diga que é importante a leitura se você não costuma ler, não fale mal da escola se você quer que seu filho a frequente e realmente aprenda, não critique seus pais, sogros e irmãos se você quer que seu filho respeite a família. Se não puder fazer, simplesmente não fale: a ênfase será menor e você não estará mentindo.

É difícil, eu sei, mas não é impossível. Afinal, se podemos contribuir negativamente com a formação de nossas crianças, o inverso também é possível e o resultado será infinitamente melhor. E antes que você diga que não dá para evitar que nossas crianças tenham contato com emoções negativas, afinal, a sociedade está cheia delas, já antecipo: a sociedade realmente está cheia delas, então você definitivamente não precisa contribuir nesse sentido. Em contraponto, tem o compromisso de proteger e educar positivamente estes seres que, em breve, terão em mãos as decisões da humanidade.

É hora de deixar de pensar no mundo que deixaremos para nossos filhos e começar a pensar nos filhos que deixaremos para o mundo. Isso vale para todos, em especial para pais, cuidadores e professores, que são os primeiros modelos a serem copiados por nossas crianças, mas estende-se, também, a toda a sociedade.

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