O que define um legado?
O que define um legado?
Seriam os anos vividos, as batalhas enfrentadas ou a forma como se é lembrado?
Recebi a missão de falar sobre aquilo que enfrentamos diariamente ao vestir a farda bege legendária: a responsabilidade que ela carrega, a admiração que desperta e, sobretudo, sobre um homem que não apenas a vestiu, mas a honrou com cada passo, demonstrando o valor da hierarquia, da disciplina e, acima de tudo, do espírito de lealdade e camaradagem.
Para um bom brigadiano, a farda não é apenas um pedaço de tecido. Ela é símbolo, é peso, é promessa. Uma promessa que carregamos sobre os ombros, dia após dia, enfrentando não apenas o que está diante de nós, mas também o que nos habita: o medo, a dúvida, a saudade.
Quantas vezes deixamos o calor do lar, o sorriso dos filhos, o abraço da esposa para enfrentar o desconhecido? Quantas vezes nos tornamos escudo para aqueles cujo nome sequer sabemos?
É preciso coragem para vestir a farda. Mas é preciso ainda mais para honrá-la.
E, no meio dessa longa travessia, encontramos inúmeras pessoas. Algumas passam como fumaça, como folhas secas levadas pelo vento, leves, quase imperceptíveis, e logo se perdem no pantanoso terreno do esquecimento. Mas há outras que permanecem como raízes profundas, como marcas que o tempo se recusa a apagar.
São essas que jamais sairão de nossas memórias. Não apenas por suas ações, mas pela forma como olham o cotidiano, como percebem aquilo que só quem está na labuta diária é capaz de enxergar. Pessoas que conhecem o significado de empatia.
Foi nas fileiras da gloriosa Brigada Militar que se destacou, entre tantos, o 2º Sargento Ademar Baptista. Durante 45 anos, ele dedicou-se de corpo e alma à missão. Como bem lembra Mário Sérgio Cortella:
“Faça o teu melhor nas condições que você tem, enquanto não tem condições para fazer melhor ainda.”
E assim ele fez: deu o seu melhor. Em cada gesto, palavra e serviço prestado à comunidade que tanto protegeu, demonstrou algo que muitos ainda relutam em compreender: não somos apenas uma identidade funcional, somos seres humanos.
Por trás da farda, existe alguém único, insubstituível, que carrega a própria história e cujo legado é medido pela forma como honra a promessa todos os dias.
Iduarez Cassio da Veiga
Policial Militar e Criminólogo