O papel da família no desenvolvimento das habilidades socioemocionais da criança

As mudanças no modelo educacional desencadeadas pela pandemia de COVID-19 tem transformado o processo de alfabetização e construção da aprendizagem em motivo para preocupação de pais, professores e outros segmentos da sociedade, que desde março de 2019, buscam respostas para o seguinte questionamento: As crianças em fase de alfabetização conseguirão preencher as lacunas provocadas pela suspensão das aulas presenciais?

Embora as mudanças no padrão de ensino tenham provocado profundas alterações no cotidiano escolar, existe um conjunto de aprendizagens que podem – e devem – ser exercitadas mesmo longe da sala de aula, constituindo-se como bagagens essenciais ao desenvolvimento do indivíduo em formação. São as Aprendizagens Socioemocionais, que na prática, compreendem as habilidades necessárias ao convívio em sociedade. Estas habilidades podem ser desenvolvidas de diferentes maneiras, mesmo nos lares mais simples e costumam ser distribuídas em cinco categorias: relacionamento interpessoal, autoconsciência, consciência social, autogestão e tomada de decisão responsável.

Apesar do papel fundamental da escola no desenvolvimento das aprendizagens socioemocionais, é na família que estas estruturas devem ser criadas e fortalecidas. Compete à família despertar na criança as habilidades de relacionamento interpessoal, ensinando seus filhos, desde a infância, a negociar conflitos, cooperar com as outras pessoas, respeitar os mais velhos e ter relacionamentos saudáveis.

Também é importante despertar na criança a autoconsciência, estimulando-a a conhecer as próprias emoções, valores e pensamentos, sem superestimar nem subestimar habilidades ou características por meio de comparações.

A consciência social, expressa pela capacidade de entender as demais culturas, respeitando-as e valorizando-as, assim como a autogestão, que é a habilidade de gerir com sucesso as próprias emoções e comportamentos, são habilidades ensinadas mais pelo exemplo que pela palavra e, portanto, cultivadas no exercício familiar cotidiano, enquanto que a habilidade de tomar decisões de forma responsável permitirá à criança, no futuro, fazer escolhas construtivas, essenciais ao seu bem-estar.

Os avanços tecnológicos das últimas décadas promoveram uma transformação da realidade, questionando o papel de instituições essenciais como a família ou a escola e colocando em risco o desenvolvimento das aprendizagens socioemocionais, habilidades essenciais não somente à vivencia cotidiana, mas também à aprendizagem escolar: inúmeras pesquisas comprovam que indivíduos com habilidades socioemocionais desenvolvidas tendem a apresentar melhores resultados acadêmicos.

Sabe-se que as lacunas na formação escolar dos pais ou cuidadores podem dificultar o apoio à realização das atividades extraclasse, porém, não representam qualquer empecilho ao livre exercício da construção dos conhecimentos socioemocionais. Ensinar a criança, desde cedo, a respeitar os horários e a hierarquia familiar, a cuidar da higiene do corpo e da casa, entre tantas outras ações, não são hábitos ultrapassados, mas sim habilidades necessárias ao pleno desenvolvimento individual. Sendo assim, é possível afirmar que suspensão das aulas também pode ter seu lado bom: além de contribuir com o avanço da epidemia, permite às famílias que passem mais tempo com seus filhos. Então, é hora de explorar esse tempo a mais com as crianças e jovens para incentivá-los à construção dos conhecimentos socioemocionais. O futuro coletivo agradece.

 

 

 

 

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