O Desconforto da Sociedade

Há quem acredite que empatia é apenas se colocar no lugar do outro. Mas
esquecem algo fundamental: para isso, é preciso primeiro enxergar o outro.
Enxergar de verdade, com atenção, escuta e presença. Afinal, a palavra empatia
vem do grego empatheia, que significa “paixão” ou “estar afetado por”. Desse modo,
ser empático não é apenas imaginar o que o outro sente, mas permitir-se ser tocado
por sua dor, sua alegria, sua humanidade.
Curiosamente, encontramos a palavra empatia em discursos, textos e,
principalmente, nas redes sociais. Mas, fora das linhas, no cotidiano, seu real
significado é frequentemente deixado de lado. Tornou-se fácil falar sobre empatia
atrás das telas, compartilhando frases prontas. Mas será que realmente estamos
colocando em prática aquilo que constantemente publicamos?
Além disso, a empatia virou um símbolo de virtude digital, algo usado para parecer
conscientes, sensíveis, humanos. Diversas vezes, nos mostramos sensíveis diante
de situações, sejam desastres, crimes ou barbáries, que acontecem muito longe do
nosso convívio. De fato, são eventos que causam desconforto, indignação e tristeza.
Mas eu faço uma pergunta: por que é mais fácil sentir empatia pelo que está
distante do que pelo que está ao nosso lado?
Como disse Madre Teresa de Calcutá:
“É fácil amar os que estão longe; mas nem sempre é fácil amar os que
vivem ao nosso lado.”
Portanto, falar sobre empatia em seu verdadeiro sentido é fácil; praticá-la, por outro
lado, não é tão simples. Talvez seja por isso que preferimos a distância: ela nos
permite sentir sem nos envolver, opinar sem nos comprometer. Mas empatia não é
um exercício de aparência, é um ato de presença. Requer coragem para sair da
zona de conforto, disposição para ouvir e humildade para reconhecer que o outro é
tão complexo quanto nós. Se não estivermos dispostos a transformar discurso em
ação, a empatia continuará sendo apenas uma palavra bonita, perdida entre likes e
compartilhamentos.
No meio do desconforto da sociedade, talvez o verdadeiro sentido da empatia ainda
resista nos vínculos mais próximos, aqueles que exigem presença, não aparência: a
família e os bons amigos.
Iduarez Cassio da Veiga
Policial Militar e Criminólogo

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