ESCOLA, LABORATÓRIO DA CIDADANIA?

A educação tem como objeto de ação a formação da sociedade a partir da interação com os educandos. Sendo assim, deve contribuir para que o processo de construção dos conhecimentos seja o mais qualificado possível, por meio de um processo educativo significativo, capaz de contribuir de forma concreta para que, no futuro, os hoje estudantes possam atuar em diferentes áreas do contexto social de forma positiva. Ou seja, todas as ações pensadas e desenvolvidas em uma escola devem responder, em um único tempo, aos objetivos imediatos – de curto prazo e, também, aos objetivos definidos para médio e longo prazo, visto a ação do professor interferir no comportamento social dos estudantes, que é construído ao longo da infância e da adolescência.

Nesse contexto, torna-se imperativa a implementação de uma proposta pedagógica participativa, a qual pressupõe a participação ativa dos diversos segmentos que integram a comunidade escolar. Estes elementos são os responsáveis pelo desenvolvimento das diferentes ações necessárias à resolução dos problemas inerentes ao dia-a-dia escolar e ao desenvolvimento das ações pedagógicas desencadeadas pela escola. Sendo assim, a participação precisa ser incentivada, por meio de um processo de gestão democrática que, percebe-se, ainda é uma utopia nas escolas públicas.

Os pressupostos tayloristas-fordistas de gerenciamento organizacional, expressos por meio de ações como a racionalização, a formalização, a divisão do trabalho, a centralização decisória e o controle, formalizados pela segmentação dos serviços desenvolvidos nas instituições de ensino, os quais respondem a interesses distintos, como se a escola e a educação não compreendessem um processo único e formativo, mas sim um conjunto de áreas isoladas, são fortalecidos pela fragmentação do ensino – que já começa nos anos iniciais e se efetiva na formação dos professores, apresentam-se totalmente inadequados ao contexto socioeducativo da atualidade e pouco contribuem para a tão sonhada “formação integral do cidadão” e seu preparo para o pleno exercício da cidadania.

Para que um processo efetivo de educação seja construído, faz-se necessário que a escola seja, em seu conjunto, um espaço favorável à aprendizagem, constituindo-se por um ambiente de efervescência na busca do conhecimento e de curiosidade em relação ao mundo, no qual os professores capturem o conhecimento que circula na sociedade e o tragam para dentro da escola, interagindo com ela e consolidando o papel da escola na formação holística do aluno (INEP, 2004). Neste espaço pedagógico almejado, existe espaço suficiente para a ação de gestores, colaboradores, familiares e, principalmente, para a ação do estudante, elemento central do processo educativo.

Como professora e cidadã, sinto que os debates educativos da atualidade estão, cada vez mais, pautados pela dicotomia entre o real e o ideal: a sociedade atual reconhece a necessidade de formação integral, de fortalecimento da ação coletiva, de transformação no modelo tradicional de ensino, no qual a fragmentação é, a cada dia, mais acentuada. Ao mesmo tempo, esta mesma sociedade contribui para que esse processo, cada vez mais, seja fragilizado, quer pela ação inadequada, quer pela omissão, que dá espaço para a segmentação dos saberes e a ausência de momentos de discussão coletiva. Ressalto que o termo “sociedade” refere-se ao conjunto formado por diferentes elementos, dentre eles, eu e você.

Já passa da hora de buscarmos estratégias para enfrentamento de tão difícil realidade. O período de suspensão das aulas desencadeado pela pandemia nos mostrou a importância da escola, agora é hora de juntos, construirmos uma escola real, que atue como um laboratório para a cidadania e realmente faça diferença na sociedade. É o que todos merecemos: uma escola cidadã, que permita aos estudantes sua formação integral, sem jamais perder sua essência humana.

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