EDUCAÇÃO: PAPEL DA ESCOLA OU DA FAMÍLIA?

A escola e a educação escolar são essenciais à formação do cidadão. Prova disso é o fato de os países com maiores índices de desenvolvimento serem também aqueles que mais investem em educação. Não é o caso do Brasil, república jovem que apresenta defasagens históricas no contexto educacional, dentre as quais se destacam as elevadas taxas de analfabetismo e evasão, os parcos investimentos na qualificação dos educadores, a ausência de incentivos reais à formação continuada, o sucateamento das escolas públicas e a mercantilização do saber. Não por acaso, em uma nação que entende o financiamento da educação como despesa – e não como investimento, vêm-se registrando crescimento negativo nos indicadores de aprendizagem, mascarados por falsos índices de aprovação alcançados por decreto que, supostamente, têm como objetivo manter o indivíduo na escola, mas que acabam funcionando como um desestímulo à construção da aprendizagem.

Convém mencionar que não sou a favor da reprovação, mas a aprovação escolar por decreto não me parece estratégia eficiente para alcançar a tão sonhada qualidade na educação. E é aí que se torna essencial trazer para o debate um segmento importantíssimo e que, a cada dia, vem reduzindo sua participação no cotidiano escolar: a família, independente do modelo em que esta se constitui. Salvo exceções, estudantes que contam com suporte e incentivo da família dedicam-se mais aos estudos e enfrentam menos problemas no cotidiano educativo. Como resultado, os índices de aprendizagem são significativamente superiores que os apresentados pelos demais, mesmo que em condições adversas.

Carências na educação familiar refletem-se diretamente na aprendizagem escolar e podem ser identificadas nos diferentes modelos familiares. Ambientes familiares instáveis, marcados por episódios de irresponsabilidade ou violência, mesmo que dotados de tudo o que o dinheiro pode comprar, remetem à escola e à sociedade indivíduos inseguros, egoístas e por vezes violentos. Contrapondo-se a isso, ambientes artificialmente perfeitos, não raro construídos a partir de um esforço sobre-humano dos familiares, culminam com a formação de crianças e jovens incapazes de conviver em sociedade e sem estrutura para compreender o valor do que possuem ou o significado de um “Não”. Preocupados em oferecer muito mais do que tiveram um dia, um grande número de pais dedica a maior parte do seu tempo ao trabalho, para, dessa forma, poder adquirir bens por vezes desnecessários, deixando de lado atitudes simples como acompanhar e incentivar o desenvolvimento escolar de seus filhos. É a geração que não tem tempo para orientar a realização de uma tarefa extraclasse, para participar de uma reunião escolar, para contribuir em um projeto voluntário. A mesma geração que não tem paciência para debater com o adolescente e, como estratégia para evitar confrontos, insiste em tratá-lo como criança ou a exigir que se comporte como adulto. Que prefere esquecer a importância de um abraço, de um afago ou mesmo a necessidade de explicar a diferença entre “Sim” e “Não”. Mas que, curiosamente, sonha com filhos educados, prestativos, compreensivos e com capacidade de dialogar, remetendo-os à escola para que aprendam tais valores, instituição essa, que por sua essência, pouco poderá fazer para preencher tais lacunas.

Bons cidadãos não se formam por decreto. Uma educação de qualidade também não. Se ambos os segmentos – família e escola – tem o sucesso futuro de crianças e jovens como meta comum, não seria mais adequada a união de forças em prol do crescimento coletivo? Já passa da hora de assumirmos nossas responsabilidades e encararmos o fato de que educação exige AÇÃO. Afinal, apontar culpados não ameniza e nem resolve os problemas, pelo contrário, consegue torná-los ainda mais evidentes.

Pense nisso!

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