Bebê nasce em ambulância após mãe passar por três hospitais no RS

Publicado em: 5 de maio de 2023

A 8ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio Grande do Sul investiga o caso de uma mulher que precisou fazer um parto em uma ambulância estacionada em frente ao Hospital Associação Beneficente Santa Rosa de Lima, em Arroio do Tigre, na Região Central. A instituição foi a terceira tentativa do casal, na madrugada do dia 28 de abril. Antes, eles passaram pelos hospitais, São João Evangelista, de Segredo e de Sobradinho, tendo que percorrer um total de 22 km de distância entre os três municípios.

O parto e todo atendimento à mãe e à criança precisaram ser feitos dentro da ambulância, pois o hospital de Arroio do Tigre manteve as portas fechadas após funcionários se recusarem a atender mãe e filho, segundo o pai da criança e pessoas da equipe médica.

Em nota, o Hospital Santa Rosa de Lima afirma que desaprova a conduta dos profissionais e abriu uma investigação interna para apurar a responsabilidade dos envolvidos. O Hospital diz ainda que não é referência para partos e por isso não tem plantão com médico obstétrico. Leia nota completa abaixo.

A RBS TV também procurou a Secretaria de Saúde de Segredo, para entender por que a mãe foi encaminhada para Sobradinho, mesmo sabendo que não havia atendimento de obstetrícia, mas a secretaria não quis se manifestar sobre o caso.

Os pais de João Lucas, Max e Júlia, moram no interior de Segredo. Logo após os primeiros sinais de que o parto se aproximava, o casal foi até o Hospital São João Evangelista de Segredo. Lá eles receberam a informação de que instituição não teria a equipe necessária para o atendimento.

“Ela [a atendente] disse que eu teria que passar em Sobradinho, porque ali não tem médico, só a partir da próxima semana”, explicou a mãe.

Já quase em trabalho de parto, Júlia seguiu até o no Hospital São João Evangelista de Sobradinho, porém lá também foi informada de que a instituição não poderia realizar o procedimento que a região não tem hospital referência para partos de baixo risco.

“O município de Segredo era sabedor, obviamente, que até quinta à tarde [dia 27 de abril], o Hospital São João Evangelista ainda estava com o seu centro cirúrgico interditado. Provavelmente, e muito cristalinamente, não era possível que, se está desinterditado à tarde, tu tenhas uma equipe pronta à noite. Por isso, que a gente não consegue ainda chegar em uma conclusão da exatidão do porquê foi enviado para o Hospital São João Evangelista”, explica Júlio Roberto Lopes, coordenador da 8ª Coordenadoria Regional de Saúde.

Terceira negativa

A equipe médica de Sobradinho, no segundo hospital onde o casal tentou atendimento, acompanhou a mãe na ambulância até Arroio do Tigre, onde mais uma vez Júlia teve o atendimento médico negado.

“Encostou a ambulância na frente, eles abriram, e a enfermeira só fazia sinal que não, que não ia abrir. Eu só queria que o meu filho nascesse com saúde, eu não pensava em mim, em mais ninguém, só nele”, disse a mãe.

João Lucas nasceu ali mesmo, dentro da ambulância em frente ao hospital. O pai da criança gravou o momento em que a esposa passava pelo trabalho de parto. “Aí ó, nascendo meu filho aqui, na porta do ‘Tigre’”, comenta Max.

Nota do Hospital Santa Rosa de Lima

O Hospital Santa Rosa de Lima, de Arroio do Tigre, com relação ao fato ocorrido no dia 28/04/2023, envolvendo uma gestante de Segredo-RS, presta os seguintes esclarecimentos:

A Direção do Hospital desaprova a conduta dos profissionais de saúde, que não prestaram atendimento à gestante. Neste sentido, está sendo aberta uma sindicância interna para apurar a responsabilidade dos eventuais envolvidos, inclusive o horário e local onde ocorreu o parto;

O Hospital Santa Rosa de Lima não possui plantão obstétrico, mas tão somente plantão clínico;

A gestante estava internada no Hospital São João Evangelista, de Sobradinho, onde estava recebendo atendimento. Quando começou o trabalho de parto, foi colocada numa ambulância e encaminhada ao Hospital de Arroio do Tigre, que NÃO é o Hospital de referência para partos de risco habitual e nem de alto risco.

A referência, em ambos os casos, é o Hospital de Caridade e Beneficência, de Cachoeira do Sul;

Não houve contato de médico para médico, o que é uma praxe, em caso de encaminhamento de um paciente, de um hospital para outro hospital;

Por não dispor o Hospital de Arroio do Tigre, de plantão obstétrico, este serviço não estava disponível naquele momento;

Desde 2017, no mínimo, não há nenhum contrato firmado entre o gestor estadual do SUS (Secretaria Estadual da Saúde/RS) com o Hospital, para o serviço de Obstetrícia, via regionalização de partos, com financiamento estadual;

Não existe nenhum “acordo verbal”, aliás vedado por lei, para atendimento do serviço de obstetrícia. Os formalidade dos contratos públicos, não permitem a forma verbal, devendo, obrigatoriamente, ser expressos.

Escrito por: G1 RS

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