ESCOLA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE

Nunca debateu-se tanto sobre educação. Com certo receio, buscando eliminar fakenews dentre as fontes informativas e lendo até o final as matérias selecionadas, arrisco a dizer que a situação instalada – que beira o caos, diga-se de passagem, tem vários aspectos positivos. Minha opinião não tem qualquer cunho político-ideológico, tampouco é fruto de influências de direita ou esquerda. Não que eu não possua tais referências, inclusive as considero essenciais à construção de qualquer crítica voltada à sociedade. Mas o fato é que a educação virou vitrine, para o bem e para o mal.

Nesse momento de visibilidade, onde discursos inflamados debatem o papel do professor, ora relegando a este superpoderes não existentes, ora atirando-o à fogueira como numa grande caça às bruxas, incitar debates acerca do papel da educação passa a ser fundamental, sendo este – em minha percepção – o principal ponto considerado positivo em meio ao caos.

Educação não é tarefa exclusiva do professor, mas sim da família e da sociedade. Esse argumento não é opinião pessoal, é princípio constitucional. Sendo assim, se a educação vai mal, não somos nós, professores, os únicos culpados: essa culpa é partilhada com a família, com a sociedade e com o estado. Contudo, nas salas de aula do ensino básico da rede pública brasileira, os fatos mais comuns de serem identificados são alunos oriundos de famílias totalmente omissas ao ato de educar seus filhos, educandos provenientes de organizações sociais marcadas pela violência e pelo preconceito e que nem sempre conseguem frequentar uma escola que realmente atenda suas necessidades, dado o atual sucateamento das instituições públicas de ensino. Todos esses casos têm exceções e, para estas exceções, a escola curiosamente funciona. Então, o problema é a escola?

Um professor sozinho nada faz. Um professor com recursos limitados não busca qualificação, sem qualificação é impossível buscar atualização profissional constante e, sem esta, o conhecimento torna-se obsoleto. É a aplicação concreta e infeliz da pirâmide de Maslow: só galgamos posição superior quando nossas necessidades básicas são supridas. Salários inadequados ao tamanho do ato de educar, atrasados e parcelados, a inexistência de políticas de incentivo à qualificação, entre outros fatores, impede os professores de alcançar o topo da pirâmide, que compreende as necessidades de autorealização. Sem autorealização, indivíduos não conseguem vislumbrar perspectivas e adoecem. Seria este o motivo para o número absurdo de professores diagnosticados com depressão, nos últimos dez anos? Em tempo: os casos descritos também têm exceções e, para estas exceções, a teoria não funciona. Então, o problema é o professor?

A educação amedronta, mas é essencial à transformação da sociedade. Tomemos como exemplo nações que fizeram da educação sua bandeira e que hoje colhem frutos do crescimento econômico e social. Redução de investimentos nessa área pode levar ao caos, assim como pode levar ao caos a omissão da responsabilidade. Se a educação é dever também da família, da sociedade e do estado, que estas instituições retomem seu papel. E nós, professores, retomemos também nosso papel de agentes de mudança, muitas vezes esquecido em meio à confusão criada pela insegurança sobre o que é, necessariamente, o papel do professor frente à sociedade. Enfrentar a caça às bruxas é preciso, porém, mais que isso, é preciso incitar debates acerca do papel de cada segmento na construção de um futuro melhor. E os momentos de caos, como agora, caracterizam vitrine perfeita para essa proposta.

 

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